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12 de abr. de 2009

Meu domingo de Páscoa

Ver o mar sempre me faz bem. Ele pode estar com a maior ressaca, agitado, barrento. Não importa. Adoro ir pra casa da minha mãe, sentar nas dunas e ver as ondas. Mesmo que apareça algum engraçadinho dando tchau ou que as poucas pessoas que caminham na praia vazia fiquem olhando na minha direção, nem ligo. Todo mundo deveria fazer isso. Sempre faço. Sempre faz bem.
Neste domingo foi particularmente especial. É como se o mar dissesse que ainda tenho muito a descobrir. É redundante, eu sei, todo mundo ainda tem muito a descobrir. Talvez eu tenha é que me convencer do que eu já saiba. Ou vivenciar mais o que eu já sei. Foi especial.

Quando resolvi voltar pra casa, minha mãe foi me levar até a parada de ônibus. Engraçado como nesses poucos minutos conversamos mais intimamente do que durante o feriadão todo. A conversa me fez ter ainda mais certeza que uma coisa é inegável: a vida dá voltas. Muitas e muitas voltas. Tudo se encaixa. Ciclos se fecham, enquanto outros se abrem. Meu Deus!
O papo com minha mãe me deixou num misto de surpresa, alegria, alívio. Paz!


No ônibus, uma senhora sentou do meu lado. Cabelos brancos, aparentando 60 e poucos anos, cheia de sacolas. Ela aponta para o rapaz e a moça no banco ao lado. Diz que é seu filho e tem uma deficiência mental, um nome difícil, resultado de uma gravidez complicada. A moça tem algo no cérebro, acho que um tumor. São namorados. Francisco e Amanda. Bonito ver os dois de mãos dadas. Me interessei pela história.
Do Rincão a Criciúma ela me contou sua vida com riqueza de detalhes. Falou como adotou Francisco, 24 anos atrás, mesmo tendo três filhas doentes que faziam tratamento em Porto Alegre. Contou como o marido de sua amiga (que seria a nova mãe do menino), rejeitou o bebê e desafiou a Deus dizendo que não teria filhos nem se Ele quisesse. Descreveu o sonho que teve com a amiga mostrando o exame positivo de gravidez e como viu a cena acontecer “na vida real”. Ah, e claro, como tirou sarro do marido da amiga dizendo que o filho era do vizinho. Rá.
Acompanhei a história de uma mãe que não mede esforços para ver seu filho bem. Um filho adotivo, nascido de mãe alcoólatra que nunca procurou o bebê. Menino que era só ossos e cheio de ínguas, mas que ela cuidou e cuida com tanto amor.
Dona Nice fez questão de ressaltar que não estava exagerando porque é Páscoa, pra deixar a história mais bonita. Jura que é tudo verdade. Nem precisava. Acreditei.

**

E acreditei também que estamos rodeados de histórias lindas e emocionantes, mas sempre ocupados demais com nosso umbigo para prestar atenção nelas. Seja o mar, sua mãe, a mãe dos outros... é só parar para ouvir. E não precisa esperar até a próxima Páscoa.

9 comentários:

RODRIGO BRASIL disse...

Kellen, lindo texto. Uma forma maravilhosa de se terminar um domingo de páscoa! Bem os sinais realmente estão ao nosso redor. Histórias como essa só fazem crer que o amor é a cura de todo mal, o amor que a dona Nice descreveu ter dado ao Francisco foi a maior prova que realmente se pode mover montanhas. Sobre o mar, perfeito seus sentimentos diante dele, ele realmente conversa conosco. O mar une vidas,culturas e transporta emoções. E eu sei que a mensagem que ele lhe passou ja esta em seu coração e em sua alma, agora basta você refletir e saber decifra-lo. Lembre-se que ele falou com você, mas a beleza e o silencio majestoso do mar não se permite tomar a iniciativa, ou seja, você ao sentar diante dele com toda certeza fez as perguntas a ele, e ele em sua infinita sabedoria e em harmonia com sua paz interior ao observa-la lhe enviou as respostas. Não tenha medo de mudanças ou descobertas de novos sentimentos. "Se somos um peixe maior que o tanque em que fomos criados, ao invés de nos adaptarmos a ele, devíamos buscar o oceano."


RODRIGO BRASIL

Filipe disse...

Gostei de ler isto.

Gosto das histórias alheias e simples, de pessoas guerreiras que querem compartilhar a sua luta e vivência com o próximo.

Se cada pessoa tivesse um pouco de tempo e paciência para ouvi-las, assim como vc fez hoje, penso que teríamos menos consumo de drogas e atentados absurdos que ocorre pelo mundo afora.

Dar mais atenção ao próximo.
Acho que falta isso!

Parabéns pelo texto de hoje, Kellen =*

Deise Anne disse...

Nossa, texto inspirador. Eu também fui a minha cidade nesse feriado e quando vou lá que eu volto enxergando tudo diferente. É como se eu conseguisse reencontrar meu eixo, minha origem, aqueles que me amam sem precisar de muitas razões e eu tenho paz.
Legal sua reflexão, Kellen. Me identifiquei muito.

Feliz Páscoa!

Beijos,

Deise

Rafa disse...

Mt lindo mesmo!!! Q possamos aplicar em nossas vidas td q vc escreveu no seu texto.... E prestar mais atenção nos detalhes da nossa vida, em td q nos rodeia... Lindo..Lindoo... Bjus primaa

Anônimo disse...

Incrível como tu escreve cada vez melhor. Acho qué é o momento de dizer isso. Fazia tempo que precisava te falar. Bom olhar pro mar né e ouvir o que as pessoas tem pra contar. Impressionante a história. Minha Páscoa também foi especial. Comecei a me preparar para um momento que deve mudar a minha vida e fiz um novo amigo. Depois te conto os detalhes..
Beijussss. Aline.

Aline Hahn disse...

Que história linda Kellen!...
Hj mesmo estavamos comentando eu e uma amiga, de como a vida é interessante, e como ela dá voltass mtas vezes... Até coloquei uma frase em meu orkut e no msn que fala um pouco sobre isso... Dos mistérios que a vida nos reserva... serão eles mera coinscidência, acaso do destino, ou será que Deus está agindo muitas vezes sem se quer ao menos que nos apercebamos disso, pelo corre-corre diário à que somos obrigados a estar vinculados?
A vida é muito complexa, mas muito bela também... basta que saibamos prestar mais atenção nela, nas coisas e principalmente nas pessoas ao nosso redor, pois acredito que tudo está interligado, de uma forma ou de outra... É realmente uma pena que somente alguns seres "iluminados" se apercebam disso... e tenho certeza que vc é um deles! Uma ótima semana!!

Renata Angeloni disse...

acho encantador as coisas simples, as histórias ao redor
também amo ficar perdida olhando o mar, serras...
e nada melhor que um ônibus para ouvir histórias incríveis, rododviária tb vale
elas estão em todos os lados, mas acho q este ambiente propicia estas intimidades, de falar sem medo, se abrir, se orgulhar...
enfim, viva a vida

Deise Duarte disse...

Tewr sensibilidade para ouvir uma senhora que senta ao teu lado no ônibus já é grandioso. Aprender com a história dela é prova de inteligência. Acho admirável quando alguém conta seus medos, seus fracassos e seus acertos aos outros, e admiro ainda mais quem é capaz de ouvir atentamente.
Acho que é por isso que eu gosto de ti (PRONTOFALEI) pq tu é capaz de aprender...e depois ainda ensinar um pouquinho por aqui.

O mar...ah, o mar!

Beijo gata!

p.s: Se você votar para eu ir pro paredão eu não cou mais ser tua amiga subcelebridade!

Luciano Bif disse...

a palavra é compaixão! com o proximo, consigo...
esse é o sentido da vida!

sempre leio teu blog, mas hj foi demais!

bj pra ti

Luciano e Sane