Sempre que leio um texto ou ouço uma música que eu gosto penso no quanto será que tem do autor ali. Até onde é realidade e onde começa a ficção. O quanto de dor ou alegria foi (ou é) realmente sentida por quem escreveu aquela letra. E sempre que tenho a oportunidade pergunto ao autor. É mania. Não que eu conheça muitos compositores, mas tenho o privilégio de ter acesso a pessoas que conseguem me sensibilizar com sua arte. Seja no trabalho ou nas amizades que a gente faz por aí na vida.
Uma vez perguntei a um conhecido se uma música dele era algo que tinha vivido. Fala em desencontros, desejos reprimidos e a vontade de chegar ao bom e velho final feliz. Sinceramente, eu esperava um 'sim' de resposta. Mas, para minha surpresa, ele disse que não é bem assim. Que a música vem. Assim. Ela só vem. Entendi, mas não deixei de acreditar que, sim, tinha a marca dele ali.
Outra vez um amigo, músico e compositor, disse acreditar ser algo espiritual. Que ele compunha e quando via o resultado pensava em como tinha feito algo tão lindo. Não é falta de modestia, ele faz músicas de arrepiar de tão lindas. De novo, que a música vem. Mas, tinha, sim, algo de real ali. Tinha, sim, um quê de verdade misturado com uma dose de exagero que forma a receita certa pra fazer chorar. Todo mundo já amou. Todo mundo já sofreu. E se ainda não cicatrizou, meu bem, você vai chorar.
Mas a cereja do bolo (com o perdão do clichê) veio esta semana com uma entrevista que fiz no trabalho. Há dias ouvi uma música que me marcou muito. "Ainda é tudo seu". Ouvi trabalhando, em casa, antes de dormir... O estranho é que pensei em várias pessoas e amores. "Ainda tenho tanta coisa pra te dizer e saber". "Eu volto pra te buscar". E pensei em mim."Segredos moram comigo, eu gosto de contar pro céu". Então eu encontrei a Luiza Possi, compositora e intérprete da música. E fiz a pergunta de sempre - com o pretexto que é para a matéria (e também é), mas mais para matar a minha velha curiosidade, 'aquela de outros anos'.
Ela disse que não é sobre uma pessoa apenas, mas várias. Quem ouve pode jurar que é para um amor. Mas é uma combinação de experiências em estrofes que se aplicam a vários personagens de sua vida e a si mesma. E eu sorri. Em pensamento. Me pego fazendo isso em textos jamais publicados. Crio histórias que misturam realidade e fantasia e penso em que interpretação - talvez ainda mais fantasiosa - o leitor poderá criar. Misturo amores, vontades e saudades.
Cheguei à conclusão que cada texto tem o íntimo do autor - muito mais que uma simples eleição de palavras -, a expressão de seus sentimentos. E isso se mistura com uma fantasia não vivida para dar o tcham da coisa. Talvez o que quisesse viver, mesmo que inconscientemente, ou o que imagina que os outros vivam.
Não posso falar por todos os escritores. Mas posso por mim. Não me leve tão à sério. Pode ser só invenção, fantasia. Pode ser a mais pura realidade. Ou pode ser uma intencional combinação dos dois. E o mais provável... é que assim será.
"Segredos moram comigo, eu gosto de contar pro céu. A vida inteira é muito pouco só pra começar desvendar..."